segunda-feira, 14 de junho de 2010

JUSTIÇA COM A PRÓPRIA ARMA


P
or Um Punhado de Dólares é o primeiro de uma trilogia dirigida pelo cineasta italiano Sergio Leone (as duas outras produções Por Uns Dólares a Mais e The Good, The Bad and The Ugly foram realizadas em 1965 e 1966, respectivamente, sempre mantendo a parceria entre o ator e o diretor Leone). O que mais chama a atenção no filme é a segurança com que Sergio Leone conduz a narrativa, que nas mãos de alguém menos experiente se tornaria um tanto confusa. Leone consegue posicionar a audiência mesmo em meio a inúmeros personagens e suas características peculiares. Não é à toa que o diretor Robert Zemeckis fez uma homenagem a Clint Eastwood em De Volta para o Futuro 3 (1989). Ambientado no velho oeste, a certa altura do filme Martin McFly (Michael J. Fox) diz que seu nome é Clint Eastwood. Assistindo a Por Um Punhado de Dólares, tudo fica muito claro. Eastwood é um pistoleiro solitário, preciso na pontaria e com coração de pedra, que chega a uma pequena cidade na divisa entre o México e os Estados Unidos. Lá, descobre que o clima local é de violência e que quem está vivo hoje, pode não estar amanhã. Tudo por causa da rixa entre duas famílias que tentam controlar os negócios: os Rocco, que vivem do contrabando e venda de armas e os Baxter, que comercializam bebidas ilegalmente. Se os Baxter já não são flor que se cheire, o problema todo está com os Rocco, que apavoram a cidade mesmo sem motivo aparente. Seguro de si, o pistoleiro passa a trabalhar ora de um lado, ora de outro, levando informações contraditórias aos dois lados, arrecadando dólares aqui e ali e fazendo com que a convivência entre as duas famílias, que antes já não era das melhores, torne-se insuportável. Algo do tipo: “nesta cidade já não há mais lugar para nós dois”. O enfrentamento é certo e o pistoleiro certamente estará no meio do fogo cruzado. Mesmo falando apenas o essencial, Eastwood dá o tom certo a seu personagem: frio em determinados momentos,  até amolece o coração diante do desespero de uma mãe e seu filho numa das seqüências mais surpreendentes do filme. O diretor Leone parece saber que mesmo por trás de um coração de pedra, encontra-se um romântico, um ser que sensível que quer preservar a todo custo o que talvez nunca tenha tido: o amor materno. Mesmo assim, o herói com a maior pontaria do velho oeste, não se furta a atirar (e acertar) numa corda para salvar um amigo. No confronto final, Leone dá um show ao filmar o duelo de forma totalmente diferente do que o público está acostumado a ver, conseguindo realizar uma cena antológica, quando Eastwood toma diversos tiros e misteriosamente não morre.

APRENDENDO COM O MESTRE







Não se pode dizer que Clint Eastwood tornou-se um dos maiores cineastas de todos os tempos à toa. Ele teve a sorte, ainda no início de sua carreira, de cruzar em seu caminho com ninguém menos do que o diretor italiano Sergio Leone. Juntos, fizeram Por um Punhado de Dólares (1964), o primeiro de uma trilogia de westerns, que incluiria ainda Por uns Dólares a Mais (1965) e The Good, The Bad and The Ugly (1966). Sergio Leoni é considerado um dos pais do spaghetti western, mas não ficou só nisso. São dele clássicos como Era Uma Vez no Oeste bem como seu canto do cisne, Era uma Vez na América, com Robert De Niro, James Woods e a ainda garotinha Jennifer Connelly.
Mas voltemos a Eastwood. Ainda novo e bonitão, teve em Sergio Leone com quem aprender não só a atuar, mas convenhamos, observador como é, não é possível que não tenha sacado uma ou duas dicas de direção com o mestre. Ao longo dos anos, Eastwood se tornou um diretor tão reconhecido que o simples fato de dirigir um filme já o credencia a pelo menos cinco ou seis indicações à estatueta do Oscar. Isso sem falar no Globo de Ouro, na Palma de Ouro e outras premiações ao redor do mundo. Atuou e dirigiu o clássico Os Impredoáveis, O Cavaleiro Solitário e Bronco Billy, só para citar alguns. São mais de 65 filmes como ator, outros 35 como diretor, 33 como produtor e (ufa!) outros 21 em que foi responsável pela trilha sonora (sem falar no período em que deu uma de político e foi ser prefeito de Carmel, na California). Um verdadeiro cowboy compondo trilha sonora? Eastwood é mais do que isso. É um verdadeiro artista no senso mais estrito da palavra. A prova de que a idade avançada traz a ele apenas mais experiência, talento e vigor
Mesmo tendo ultrapassado os 80 anos, Eastwood é um gênio (ainda que ele não o admita) que esbanja sensibilidade e carisma, tanto é que uma imagem foi muito marcante há alguns anos, durante a entrega do Oscar. Eastwood, Martin Scorsese (o grande vencedor da noite com Os Infiltrados) e Steven Spielberg (que dispensa elogios) subiram juntos ao palco, numa demonstração clara de que o trio é mesmo imbatível. Juntos, os três representam o mais respeitável conjunto de obras que já se teve notícia. É claro que outros cineastas poderiam estar ali, mas justamente os três tem em sua biografia o fato de que mesmo seus piores filmes são bons. Talvez faltasse a companhia de Alfred Hitchcock, John Ford e Billy Wilder naquela noite...
Artista completo, Eastwood consegue arrancar da platéia grandes emoções. Quem não se comoveu com o destino cruel da jovem e teimosa pugilista em Menina de Ouro? Quem não se emocionou com o tórrido romance vivido entre ele e Meryl Streep em As Pontes de Madison? O vigor de seu trabalho continua, mesmo na chamada terceira idade. Dois filmes de guerra realizados simultaneamente; Gran Torino e Invictus (mais recentemente) garantem que Eastwood talvez seja o cineasta que é pelo fato de nunca fazer o mesmo filme duas vezes.


UM ASTRO CHAMADO TEFFÉ


Já nas melhores livrarias o livro ANTHONY STEFFEN – UM HOMEM CHAMADO TEFFÉ, que, lançado pela Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial do Estado. A biografia de um dos maiores astros do spaghetti western será escrita pelo cineasta Daniel Camargo e pelo jornalista Rodrigo Pereira e será baseado em entrevistas com o próprio Antonio de Teffé, feitas em seus últimos anos de vida, além de com personalidades do cinema que trabalharam ao seu lado, como o eterno "Sartana" Gianni Garko, a deslumbrante alemã Elke Sommer, as estrelas italianas Franca Bettoja e Scilla Gabel, o cineasta Enzo G. Cauteleira (Keoma), o produtor americano Mark Damon (9 ½ Semanas de Amor e Os Garotos Perdidos) e a atriz italiana radicada no Brasil Rossana Ghessa. Entre os personagens da narrativa e que mantiveram estrito contato com o herói brasileiro, surgem ainda Sophia Loren, Luchino Visconti, Vittorio De Sica, Federico Fellini, Sergio Corbucci e, é claro, Sergio Leone.



BIOGRAFIA: ANTHONY STEFFEN - UM BRASILEIRO NO VELHO OESTE


O brasileiro Antonio de Tefé (sim, nosso herói é brasileiro) nasceu em Roma no ano de 1920, na embaixada brasileira, filho do embaixador do Brasil na Itália e ex-campeão de Fórmula 1, Antonio de Tefé. De família nobre, seu nome de batismo foi Antonio Luís e, mais tarde, ele se tornou o Barão de Tefé. Ao eclodir a Segunda Guerra, seguiu para a Europa para combater os nazistas.
Sua carreira como ator começou como mensageiro de estúdio para Victorio de Sica, que na época dirigia Ladrões de Bicicleta. Sua rara beleza chamou a atenção de diversos produtores e fez com que fosse escalado para diversos filmes de capa e espada, comédias e aventuras nos anos 50. Carismático, participou também de grandes produções hollywoodianas, como Sodoma e Gomorra, de Robert Aldrich. Entretanto, foi no spaghetti western que Antonio ficou realmente conhecido. A esta altura, já assumira o nome de Anthony Stefen, tentando internacionalizar sua imagem. Nos anos 70, chegou a filmar no Brasil. O filme era O Peixe Assassino, com Lee Majors, James Franciscus e Marisa Berenson. Sua carreira construída em dezenas de filmes e com grande sucesso de público fizeram com que conquistasse o respeito da nata do cinema europeu da época. Stefen mantinha ótimas relações com artistas do porte de Federico Fellini, Sergio Leone, Ricardo Fredda, Mario Bava, Lucio Fulci, Victorio de Sica, Lucchino Visconti, Antonio Margheriti, Ennio Morricone, Roger Vadim, Carlo Ponti, Sophia Loren e muitos outros. Elegante, educado e culto, falava inglês, francês, português, espanhol e italiano. No final dos anos 80, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde fixou residência. Em 2002, descobriu que estava com câncer. Faleceu no dia 21 de julho de 2006 aos 73 anos. E o mundo da magia do cinema perdia um de seus mais proeminentes heróis.





EU VOU VOLTAR







Imortalizada por Arnold Schwarzenegger em O Exterminador do Futuro, a frase “eu vou voltar” soa como uma grande ameaça e faz tremer até os mais corajosos. Em A Volta de Sartana, o uruguaio George Hilton (fazendo-se passar por mocinho italiano) retoma mais uma vez o papel com o qual se popularizou e reaparece implacável e bom de tiro para uma nova aventura. O título em inglês do filme já é um show à parte: “Trade your Pistol for a Coffin”, ou seja “troque sua pistola por um caixão”. Mais ameaçador que isso, nem o governador Schwarzenegger vai conseguir fazer de novo.
Como todos já sabem, Sartana é multifacetário: caçador de recompensas profissional e pistoleiro com uma pontaria certeira acaba testemunhando o roubo de um carregamento de ouro. Esperto como nunca, vai até a cidade mais próxima e localiza o dono da companhia (Piero Luli), responsável pela mercadoria, oferecendo seus préstimos no sentido de proteger os próximos carregamentos. Não fosse o bom humor típico do personagem, na pele de outro se poderia dizer que sua vida estaria prestes a se transformar num inferno, tamanho o número de foras-da-lei que desejam vê-lo morto. Mas Sartana não estará sozinho nesta jornada. Sabata (Charles Southwood), que é muito mais excêntrico e desconfiado que ele, além de fazer o contraponto do mau humor em diálogos absolutamente afiados, estará ao seu lado em mais esta aventura. Algo do tipo “você vai ter que me engolir”. Além de resolver o mistério dos ladrões de ouro, o confronto entre os dois heróis será inevitável.
A direção segura do veterano Giuliano Camineo, outro profissional que veio da direção de segunda unidade (em que são filmadas as cenas de ação com dublês e sem os atores) engrandece ainda mais a história, tornando o filme um dos mais importantes representantes de seu tempo, referência ao que viria mais tarde.