segunda-feira, 14 de junho de 2010

JUSTIÇA COM A PRÓPRIA ARMA


P
or Um Punhado de Dólares é o primeiro de uma trilogia dirigida pelo cineasta italiano Sergio Leone (as duas outras produções Por Uns Dólares a Mais e The Good, The Bad and The Ugly foram realizadas em 1965 e 1966, respectivamente, sempre mantendo a parceria entre o ator e o diretor Leone). O que mais chama a atenção no filme é a segurança com que Sergio Leone conduz a narrativa, que nas mãos de alguém menos experiente se tornaria um tanto confusa. Leone consegue posicionar a audiência mesmo em meio a inúmeros personagens e suas características peculiares. Não é à toa que o diretor Robert Zemeckis fez uma homenagem a Clint Eastwood em De Volta para o Futuro 3 (1989). Ambientado no velho oeste, a certa altura do filme Martin McFly (Michael J. Fox) diz que seu nome é Clint Eastwood. Assistindo a Por Um Punhado de Dólares, tudo fica muito claro. Eastwood é um pistoleiro solitário, preciso na pontaria e com coração de pedra, que chega a uma pequena cidade na divisa entre o México e os Estados Unidos. Lá, descobre que o clima local é de violência e que quem está vivo hoje, pode não estar amanhã. Tudo por causa da rixa entre duas famílias que tentam controlar os negócios: os Rocco, que vivem do contrabando e venda de armas e os Baxter, que comercializam bebidas ilegalmente. Se os Baxter já não são flor que se cheire, o problema todo está com os Rocco, que apavoram a cidade mesmo sem motivo aparente. Seguro de si, o pistoleiro passa a trabalhar ora de um lado, ora de outro, levando informações contraditórias aos dois lados, arrecadando dólares aqui e ali e fazendo com que a convivência entre as duas famílias, que antes já não era das melhores, torne-se insuportável. Algo do tipo: “nesta cidade já não há mais lugar para nós dois”. O enfrentamento é certo e o pistoleiro certamente estará no meio do fogo cruzado. Mesmo falando apenas o essencial, Eastwood dá o tom certo a seu personagem: frio em determinados momentos,  até amolece o coração diante do desespero de uma mãe e seu filho numa das seqüências mais surpreendentes do filme. O diretor Leone parece saber que mesmo por trás de um coração de pedra, encontra-se um romântico, um ser que sensível que quer preservar a todo custo o que talvez nunca tenha tido: o amor materno. Mesmo assim, o herói com a maior pontaria do velho oeste, não se furta a atirar (e acertar) numa corda para salvar um amigo. No confronto final, Leone dá um show ao filmar o duelo de forma totalmente diferente do que o público está acostumado a ver, conseguindo realizar uma cena antológica, quando Eastwood toma diversos tiros e misteriosamente não morre.

APRENDENDO COM O MESTRE







Não se pode dizer que Clint Eastwood tornou-se um dos maiores cineastas de todos os tempos à toa. Ele teve a sorte, ainda no início de sua carreira, de cruzar em seu caminho com ninguém menos do que o diretor italiano Sergio Leone. Juntos, fizeram Por um Punhado de Dólares (1964), o primeiro de uma trilogia de westerns, que incluiria ainda Por uns Dólares a Mais (1965) e The Good, The Bad and The Ugly (1966). Sergio Leoni é considerado um dos pais do spaghetti western, mas não ficou só nisso. São dele clássicos como Era Uma Vez no Oeste bem como seu canto do cisne, Era uma Vez na América, com Robert De Niro, James Woods e a ainda garotinha Jennifer Connelly.
Mas voltemos a Eastwood. Ainda novo e bonitão, teve em Sergio Leone com quem aprender não só a atuar, mas convenhamos, observador como é, não é possível que não tenha sacado uma ou duas dicas de direção com o mestre. Ao longo dos anos, Eastwood se tornou um diretor tão reconhecido que o simples fato de dirigir um filme já o credencia a pelo menos cinco ou seis indicações à estatueta do Oscar. Isso sem falar no Globo de Ouro, na Palma de Ouro e outras premiações ao redor do mundo. Atuou e dirigiu o clássico Os Impredoáveis, O Cavaleiro Solitário e Bronco Billy, só para citar alguns. São mais de 65 filmes como ator, outros 35 como diretor, 33 como produtor e (ufa!) outros 21 em que foi responsável pela trilha sonora (sem falar no período em que deu uma de político e foi ser prefeito de Carmel, na California). Um verdadeiro cowboy compondo trilha sonora? Eastwood é mais do que isso. É um verdadeiro artista no senso mais estrito da palavra. A prova de que a idade avançada traz a ele apenas mais experiência, talento e vigor
Mesmo tendo ultrapassado os 80 anos, Eastwood é um gênio (ainda que ele não o admita) que esbanja sensibilidade e carisma, tanto é que uma imagem foi muito marcante há alguns anos, durante a entrega do Oscar. Eastwood, Martin Scorsese (o grande vencedor da noite com Os Infiltrados) e Steven Spielberg (que dispensa elogios) subiram juntos ao palco, numa demonstração clara de que o trio é mesmo imbatível. Juntos, os três representam o mais respeitável conjunto de obras que já se teve notícia. É claro que outros cineastas poderiam estar ali, mas justamente os três tem em sua biografia o fato de que mesmo seus piores filmes são bons. Talvez faltasse a companhia de Alfred Hitchcock, John Ford e Billy Wilder naquela noite...
Artista completo, Eastwood consegue arrancar da platéia grandes emoções. Quem não se comoveu com o destino cruel da jovem e teimosa pugilista em Menina de Ouro? Quem não se emocionou com o tórrido romance vivido entre ele e Meryl Streep em As Pontes de Madison? O vigor de seu trabalho continua, mesmo na chamada terceira idade. Dois filmes de guerra realizados simultaneamente; Gran Torino e Invictus (mais recentemente) garantem que Eastwood talvez seja o cineasta que é pelo fato de nunca fazer o mesmo filme duas vezes.


UM ASTRO CHAMADO TEFFÉ


Já nas melhores livrarias o livro ANTHONY STEFFEN – UM HOMEM CHAMADO TEFFÉ, que, lançado pela Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial do Estado. A biografia de um dos maiores astros do spaghetti western será escrita pelo cineasta Daniel Camargo e pelo jornalista Rodrigo Pereira e será baseado em entrevistas com o próprio Antonio de Teffé, feitas em seus últimos anos de vida, além de com personalidades do cinema que trabalharam ao seu lado, como o eterno "Sartana" Gianni Garko, a deslumbrante alemã Elke Sommer, as estrelas italianas Franca Bettoja e Scilla Gabel, o cineasta Enzo G. Cauteleira (Keoma), o produtor americano Mark Damon (9 ½ Semanas de Amor e Os Garotos Perdidos) e a atriz italiana radicada no Brasil Rossana Ghessa. Entre os personagens da narrativa e que mantiveram estrito contato com o herói brasileiro, surgem ainda Sophia Loren, Luchino Visconti, Vittorio De Sica, Federico Fellini, Sergio Corbucci e, é claro, Sergio Leone.



BIOGRAFIA: ANTHONY STEFFEN - UM BRASILEIRO NO VELHO OESTE


O brasileiro Antonio de Tefé (sim, nosso herói é brasileiro) nasceu em Roma no ano de 1920, na embaixada brasileira, filho do embaixador do Brasil na Itália e ex-campeão de Fórmula 1, Antonio de Tefé. De família nobre, seu nome de batismo foi Antonio Luís e, mais tarde, ele se tornou o Barão de Tefé. Ao eclodir a Segunda Guerra, seguiu para a Europa para combater os nazistas.
Sua carreira como ator começou como mensageiro de estúdio para Victorio de Sica, que na época dirigia Ladrões de Bicicleta. Sua rara beleza chamou a atenção de diversos produtores e fez com que fosse escalado para diversos filmes de capa e espada, comédias e aventuras nos anos 50. Carismático, participou também de grandes produções hollywoodianas, como Sodoma e Gomorra, de Robert Aldrich. Entretanto, foi no spaghetti western que Antonio ficou realmente conhecido. A esta altura, já assumira o nome de Anthony Stefen, tentando internacionalizar sua imagem. Nos anos 70, chegou a filmar no Brasil. O filme era O Peixe Assassino, com Lee Majors, James Franciscus e Marisa Berenson. Sua carreira construída em dezenas de filmes e com grande sucesso de público fizeram com que conquistasse o respeito da nata do cinema europeu da época. Stefen mantinha ótimas relações com artistas do porte de Federico Fellini, Sergio Leone, Ricardo Fredda, Mario Bava, Lucio Fulci, Victorio de Sica, Lucchino Visconti, Antonio Margheriti, Ennio Morricone, Roger Vadim, Carlo Ponti, Sophia Loren e muitos outros. Elegante, educado e culto, falava inglês, francês, português, espanhol e italiano. No final dos anos 80, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde fixou residência. Em 2002, descobriu que estava com câncer. Faleceu no dia 21 de julho de 2006 aos 73 anos. E o mundo da magia do cinema perdia um de seus mais proeminentes heróis.





EU VOU VOLTAR







Imortalizada por Arnold Schwarzenegger em O Exterminador do Futuro, a frase “eu vou voltar” soa como uma grande ameaça e faz tremer até os mais corajosos. Em A Volta de Sartana, o uruguaio George Hilton (fazendo-se passar por mocinho italiano) retoma mais uma vez o papel com o qual se popularizou e reaparece implacável e bom de tiro para uma nova aventura. O título em inglês do filme já é um show à parte: “Trade your Pistol for a Coffin”, ou seja “troque sua pistola por um caixão”. Mais ameaçador que isso, nem o governador Schwarzenegger vai conseguir fazer de novo.
Como todos já sabem, Sartana é multifacetário: caçador de recompensas profissional e pistoleiro com uma pontaria certeira acaba testemunhando o roubo de um carregamento de ouro. Esperto como nunca, vai até a cidade mais próxima e localiza o dono da companhia (Piero Luli), responsável pela mercadoria, oferecendo seus préstimos no sentido de proteger os próximos carregamentos. Não fosse o bom humor típico do personagem, na pele de outro se poderia dizer que sua vida estaria prestes a se transformar num inferno, tamanho o número de foras-da-lei que desejam vê-lo morto. Mas Sartana não estará sozinho nesta jornada. Sabata (Charles Southwood), que é muito mais excêntrico e desconfiado que ele, além de fazer o contraponto do mau humor em diálogos absolutamente afiados, estará ao seu lado em mais esta aventura. Algo do tipo “você vai ter que me engolir”. Além de resolver o mistério dos ladrões de ouro, o confronto entre os dois heróis será inevitável.
A direção segura do veterano Giuliano Camineo, outro profissional que veio da direção de segunda unidade (em que são filmadas as cenas de ação com dublês e sem os atores) engrandece ainda mais a história, tornando o filme um dos mais importantes representantes de seu tempo, referência ao que viria mais tarde.

FAROESTE PARA RIR

Já na primeira cena, dá para sentir o tom que será dado ao longo de Pecos – O Tesouro de Montesuma, tanto pelo lado exótico da história, quanto pelos diálogos leves e bem humorados. A começar pelo vilão, tudo é hilário, fugindo completamente da fórmula “família executada por um bando de foras-da-lei e que leva o mocinho a uma sangrenta vingança”. Descendente de Montesuma, o tal vilão é o líder de uma gang de pistoleiros e foras-da-lei e tem como moradia uma pirâmide asteca num vale perdido e há tempos procura pelo tesouro de Montesuma, escondido num lugar que os poucos que sabem, não revelam. Quando três mariachis trapalhões chegam a um vilarejo recentemente saqueado pelos bandidos, descobrem através de um velho morador à beira da morte, o que todos querem saber: o paradeiro desta incomensurável fortuna. Apesar de seguir todas as regras e fórmulas para se fazer um bom spaghetti western, O Segredo de Montesuma atreve-se no bom humor, mesmo em cenas dramáticas. Em outro filme do gênero, não haveria os diálogos cortantes entre os mariachis e o ancião à beira da morte, prestes a revelar o paradeiro do tesouro. Com esta abordagem, o filme ganha ritmo de fábula, sem deixar de lado, é claro, as excelentes cenas de ação. Nota-se que houve uma preocupação especial dos roteiristas na hora de colocar os diálogos e algumas piadas engraçadas. Outra diferença crucial é que de tão leve, o filme não deixa de ser diversão de primeira e pode ser apreciado pela família toda. Pecos é o terceiro filme do diretor Maurizio Lucidi, que começou como editor no início dos anos 60 e passou para a direção alguns anos depois, tendo realizado mais de 20 filmes. Se o que você procura é uma produção leve e descomprometida com a seriedade de um filme cabeça, Pecos é um verdadeiro tesouro a ser descoberto.



O REI DO PEDAÇO











John King Marley (Richard Harrison) é o tipo de caçador de recompensas impiedoso, com licença para matar, como se isso fizesse alguma diferença no velho oeste americano. Em O Rei do Oeste, lançamento Spectra, existe motivo para tanto ódio no coração. No passado, o irmão de King fora assassinado e sua mulher Carol estuprada e morta. Qualquer um ficaria com sede de vingança. E Richard Harrison encara com naturalidade o papel ao mesmo tempo sensível e brutal de um homem cujo destino levou à crueldade. E esse ódio tem direção certa: a gang conhecida como Benson, que é secretamente chefiada por um amigo e confidente de King, o Xerife Foster (Klaus Kinski, simplesmente espetacular nas poucas cenas em que aparece). O tal xerife comanda o tráfico de armas ilegais para o México, mas é implacável com quem se interpõe em seu caminho. Mas para a desgraça do chefe dos bandoleiros, King, que é o rei do pedaço, descobre suas falcatruas e o embate final se dará sem delongas.
Outro destaque fica para a trilha sonora diferenciada composta por Luis Bacalov. Ela completa o espetáculo em vez de apenas preencher vazios deixados pelos atores e pela direção.


Por falar em direção, destaque para o trabalho de Giancarlo Romitelli. Especialista na direção de cenas de ação da segunda unidade, Romitelli dá um show logo no início do filme, antes dos créditos, na seqüência em que o exército intercepta por duas vezes as carruagens que transportam as tais armas roubadas.

UM ELENCO DE FORAS-DA-LEI

Mais um grande exemplo de competência e criatividade dedicadas ao gênero western, Quando os Homens são Maus (DVD lançado pela Spectra) é uma das melhores produções de western realizadas nos anos 60. Interessante é o fato de, por ser tipicamente americano, saltam aos olhos as diferenças entre o material proveniente da Europa, através das fitas ítalo-espanholas (os spaghetti westerns) e os filmes de mocinho e bandido das terras do tio Sam.


Tanto pela fotografia, quanto pela trilha sonora, por exemplo, dá para se distinguir o país de origem de cada filme. Mas as diferenças param por aí. A história de Quando os Homens são Maus tem o mesmo toque dramático dos italianos. Como na maioria das vezes, tudo começa com uma desgraça em família.O pai do jovem Kailing Talbot morreu muito cedo. Agora, ele vive o conflito de ter um pai adotivo Harge Talbot que não gosta dele. Sua mãe espera um filho, fruto da união com este homem, que se recusa a encarar Kailing como filho e espera que sua primeira cria seja um menino macho. Durante o parto, a mãe de Kailing morre e nasce Harge Jr. o tão esperado filho.
Inconformado com a morte da mãe (era ela ou o bebê) para que o irmão pudesse sobreviver, Kailing acaba matando o padrasto. Todo este prólogo foi retirado de um dos episódios da primeira temporada de O Homem de Virginia, (1962). Outra parte do filme vem de outro episódio, desta vez da sexta temporada da série. Mas não se assuste. A maior parte do material filmado é inédito. As inserções acontecem justamente para melhor compreensão da história. É justamente essa mixagem de seqüências realizadas ao longo da série que enriquece o filme. Enquanto que os mais velhos poderão se deliciar assistindo cenas originais da série, quem não a conhece poderá ver o filme por inteiro, sem saber que se trata de uma genial colagem.


Anos depois, Kailing se tornou um fora-da-lei (Lee Marvin), tem seu próprio bando e espera por um reencontro com o irmão Harge Jr. (Charles Bronson), para vingar-se da morte da mãe.
Pouca gente sabe, mas Quando os Homens são Maus surgiu com a idéia de reviver o seriado O Homem de Virgínia, que foi ao ar no início dos anos 60 lá e aqui. Tanto é que seus atores principais Lee J. Cobb (Juiz Henry Garth) e James Drury (O Homem de Virgínia propriamente dito).
Destaque também para o roteirista e diretor Samuel Fuller, que teve 51 roteiros filmados e dirigiu mais de 30 filmes em toda a sua carreira. Fuller também trabalhou com ator em outros 30 filmes, entre eles a superprodução 1941, dirigida por Steven Spielberg, em 1979. Seu currículo invejável inclui ainda a produção de 10 filmes, direção de fotografia em dois e edição de imagens em um.
Não é à toa que Quando os Homens são Maus faça parte da galeria do que de melhor foi produzido nos EUA. Especialistas no gênero “faroeste com uma pitada de drama”, os americanos dão um show de competência tão grande e tão eloqüente quanto seus colegas italianos.



domingo, 13 de junho de 2010

A SAGA DOS PISTOLEIROS

Em Quando Um Homem é Homem, o maior cowboy de todos os tempos faz as pazes com os índios, com os sem-terra e ainda tem tempo de reconquistar sua mulher

Alguém ainda duvida que John Wayne é o maior representante do bom mocinho americano? Do herói ideal, que luta pelo que acredita (mesmo que suas convicções não sejam as mais politicamente corretas). Quem tiver algum resquício de dúvida, basta assistir ao clássico Quando Um Homem é Homem (McLintock), longa produzido pela família Wayne, em que mostra o cowboy já amadurecido, mas ainda em sua melhor forma.
Ele interpreta o personagem título McLintock, um cowboy beberrão e milionário, dono de praticamente toda a região de Mesa Verdi, no velho oeste. Já não tão mocinho assim, McLintock tem o amadurecimento suficiente para se tornar amigo dos índios da região, com quem mantém um bom relacionamento depois de várias batalhas. É respeitado por toda a cidade, mesmo por seus opositores políticos que, se pela frente se curvam a ele, por trás tramam para que ele perca pelo menos parte de seu poder. Apesar de bruto, é cavalheiro com as mulheres, a ponto de contratar uma cozinheira só por ter provado um de seus quitutes. Tudo começa quando um grupo de sem terras chega ao local em busca de terras, na esperança de um futuro melhor. Ledo engano: são terras inférteis, áridas, impróprias para o plantio, mas quem se importa?
Ao mesmo tempo, McLintock tem que lidar com a volta inesperada de sua mulher (Maureen O´Hara, uma de suas atrizes favoritas e com melhor química para contracenar com Wayne) e de sua filha (a ainda novinha Stephanie Powers, de Casal 20). Como uma espécie de megera domada, Maureen O´Hara fica com a parte cômica do filme, envolvendo-se até numa engraçada briga de homens. E sem dar o braço a torcer sobre seu amor inabalável por McLintock, a quem pretende reconquistar, mesmo agindo de forma contrária ao que pretende. Ele por sua vez, exerce todo seu machismo com grande desfaçatez: ele a ama, mas não está nem aí com ela.
Divertido, humano e muitas vezes atual, Quando um Homem é Homem tem todos os ingredientes que fazem do velho oeste o que sempre foi: um local cheio de hostilidade, árido, com belas e perigosas mulheres, mas também com homens de verdade em busca de muita riqueza. Afinal, este era e é até hoje o sonho americano. Ninguém melhor do que John Wayne para simbolizar o que de melhor esse sonho pode trazer a cada um de nós.

BIOGRAFIA: BUD SPENCER – O ANTÔNIMO DE TRINITY



Muito popular na Itália, Bud Spencer já estrelou um respeitável número de produções spaghetti western, além de outros filmes de ação, entre os anos 60 e 70. Nascido Carlo Pedersoli, em Nápoles, no ano de 1929 (portanto 10 anos mais velho que seu “irmão” Terence Hill. Quem julga por sua aparência que Spencer sempre foi o largado que mostra no cinema, engana-se. Quando jovem, foi o primeiro italiano a nadar 100 metros estilo livre em menos de um minuto. Competiu como nadador do time nacional da Itália nos jogos de verão olímpicos em Helsinki, Finlândia, em 1952 e em Melbourne, Austrália, em 1956. De quebra, era jogador de polo classe olímpica. Estudou direito, mas foi mordido pelo mosquito da atuação e apareceu como membro da Guarda Pretoriana em seu primeiro filme, o épico produzido pela Metro Quo Vadis (que foi filmado na Itália), em 1951. Durante os anos 50 e parte dos anos 60, apareceu em filmes realizados especialmente para o mercado italiano, mas sua carreira não decolava. No final dos anos 60, mudou seu nome para Bud Spencer. Tratava-se de duas homenagens: a primeira à cerveja Budweiser e a Segunda a seu ator favorito, Spencer Tracy. Com a mudança, Spencer veio a conhecer o sucesso em produções spaghetti western realizadas para distribuição mundial. Juntou-se ao também italiano Terence Hill. Seu primeiro filme juntos foi I Quattro Dell´Ave Maria (1968) e a consagração da dupla se deu em Meu Nome é Trinity (They Call Me Trinity). Foram ao todo 19 filmes ao lado de Terence Hill.
Spencer também tinha seu hobby. 
Spencer também tinha seu hobby. Tornou-se piloto de jatos e de helicópteros. Por algum tempo, foi dono da Companhia Mistral Air, fundada por ele em 1984. Entretanto, logo encerrou seu negócio, dedicando-se ao mercado de roupas infantis. Depois de 1983, a carreira de Spencer sofreu um declínio. Só voltou a fazer algum sucesso com o drama de ação Extralarge, realizado para a TV. Homem de muitos talentos, Spencer escreveu roteiros e textos para alguns de seus filmes. Tem também diversas patentes registradas sob seu nome.
Em 2005, Spencer decidiu entrar para a política, como conselheiro regional em Lazio para o partido de centro direita Forza Italia. Tornou-se político a pedido do primeiro ministro italiano Silvio Berlusconi. “Em minha vida, já fiz de tudo. Há apenas três coisas que ainda não fiz: ser bailarino, jockey e político. Como os dois primeiros estão fora de questão, decidi entrar para a política”, revela com o humor que sempre o caracterizou. Spencer é casado até hoje com Maria Amato e tem três filhos.

BIOGRAFIA: TERENCE HILL - PISTOLEIRO E SEDUTOR







Terence Hill nasceu em Veneza, na Itália em 1939. Seu nome original é Mario Girotti. Sua mãe era alemã (daí os olhos azuis) e quando criança, Hill morou em Dresden, na Alemanha, justamente na época da Segunda Guerra Mundial. Foi descoberto pelo cineasta italiano Dino Risi e fez seu primeiro filme, Vacanze col Gangster, com 12 anos de idade (1951) Daí para frente, não parou mais. Atuava mais para sustentar a família e seus estudos, além de seu hobby preferido: motocicletas. Estudou literatura na Universidade de Roma por três anos, até que decidiu dedicar todo seu tempo ao cinema. Em 1962, apareceu no clássico de Luchino Visconti O Leopardo e assinou um contrato para uma série de filmes de aventura e westerns a serem filmados na Alemanha. Em 1967, retornou à Itália no papel principal de Dio Perdona... Io No. Casou-se com a americana Lori Hill, que trabalhava como instrutora de diálogos no filme. Mudou seu nome por causa do autor de um livro de histórias latinas, que estava lendo na época, Terenzio e juntou com o sobrenome de sua esposa, Hill. – Terence Hill. Em 1976, recebeu convites para filmar em Hollywood. Apareceu em March Or Die, ao lado de Gene Hackman e estrelou Mr. Billion, com Valerie Perrine. Desde então, concentra-se em filmes de ação e aventura estrelados por ele e muitas vezes por seu parceiro de cena favorito Bud Spencer. Hoje, vive em Massachussetts e é considerado um produtor e ator respeitado.

O DOCE GOSTO DA VINGANÇA



Quando Sela de Prata (1978) foi produzido, já estávamos nos últimos dias da era spaghetti western. A febre por produções ítalo-espanholas estava se dissipando e pouca coisa ainda estava sendo feita. O diretor Lucio Fulci, um veterano no gênero, tipo de pessoa difícil, traço de personalidade típico de quem é inteligente ou criativo demais (foi responsável pelo sucesso Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, com Fabio Testi, três anos antes) continuava na ativa, nadando contra a maré, assim como seu astro principal, Giuliano Gemma, que havia alcançado o estrelato em O Dólar Furado, doze anos antes. O resultado foi um excelente filme. Boa história, atuações coadjuvantes convincentes, música excepcional, fotografia primorosa, direção de arte e figurinos de primeira fizeram de Sela de Prata um dos últimos grandes clássicos do gênero.
Ainda criança, Roy Blood (o personagem tem sangue até no nome) assistiu à morte de seu pai pela mira do bandido Thomas Barrett Jr. (Sven Valsecchi), a quem acabou por liquidar ali mesmo. O fora-da-lei cavalgava num cavalo sobre uma sela de prata, que Blood tomou para si após eliminar o bandido.
Crescido e já na pele de Gemma, Blood passa a atuar como um “justiceiro”, alguém que está sempre à espreita dos bandidos e os ataca sem piedade, pacientemente aguardando que eles saiam de suas tocas e ataquem pessoas inocentes. Uma espécie de herói sem nome. Apenas a sela de prata. Os problemas começam quando surge o pai do malfeitor assassino de seu pai, Barret (Ettore Manni), um homem ainda mais cruel e sedento pelo sangue de quem matou seu filho. Daí em diante, a luta do bem contra o mal se inicia. Em meio a este jogo de gato e rato, Gemma ainda tem tempo de se apaixonar por uma bela garota.
O diretor Lucio Fulci, falecido em 1976, foi polêmico até em sua morte. Diabético, teria se esquecido de tomar seus remédios regulares antes de dormir. Enquanto alguns consideram sua morte suicídio, outros creditam a ela um terrível esquecimento por parte do diretor.
Genial e disposto a topar qualquer parada, escreveu nada menos do que 59 roteiros, dirigiu 56 filmes, apareceu como ator em mais 19, foi diretor de segunda unidade em 10, produziu cinco e foi responsável pelos efeitos especiais em três. Esse currículo invejável o credencia a entrar com honras para o hall dos diretores mais bacanas do cinema italiano. Ele podia até não ser um gênio, mas era único.

O MAIOR XERIFE DE TODOS

Não tivesse realmente existido, o xerife Wyatt Earp seria somente mais uma lenda. Mas as marcas de sua existência e sua bravura estão em toda parte. Lendário xerife americano que conseguiu colocar ordem onde só a desordem e a bandidagem imperavam, Wyatt Earp é mais do que isso, mais do que um simples herói local esquecido no tempo: é um dos maiores heróis americanos de todos os tempos. Retratado em mais de 40 longas-metragens, já foi interpretado por atores de peso, como James Garner (duas vezes), Kurt Russell e Kevin Costner, entre tantos outros. Talvez quem conheça mais a fundo o personagem seja Hugh O´ Brien, astro do filme em DVD Wyatt Earp. O longa, na verdade, é uma retomada de sua história, a partir da terceira idade. Uma justa homenagem ao personagem interpretado pelo mesmo ator na série The Life and Legend of Wyatt Earp (que teve 165 episódios, divididos em seis temporadas, entre 1955 e 1961). O´ Brien é tido entre os americanos como o melhor Wyatt Earp de todos os tempos, assim como a grande maioria acha que Sean Connery é o verdadeiro e único James Bond.
Desta vez, o velho xerife volta à cidade que o imortalizou, Tombstone, reencontra velhos amigos e inimigos e relembra fatos ocorridos em sua época de ouro (com direito a cenas em flashback colorizadas retiradas direto da série), expulsa um bando de foras-da-lei da cidade e revela segredos de seu passado. Ação também não falta, afinal trata-se do xerife que aniquilou a bandidagem de Tombstone do mapa, no famoso duelo de OK Corrall. Seu fiel escudeiro Doc Holliday, que padecia de tuberculose na juventude aparece apenas em flashbacks, assim como seus irmãos e outras figuras que gravitavam ao seu redor.
De qualquer forma, é sempre um prazer assistir à trajetória de um herói de carne e osso. Um homem que fez da justiça sua meta e que conseguiu levar seus propósitos às últimas conseqüências numa terra de ninguém, onde a vida humana valia menos do que um prato de comida e onde a palavra de um homem era no fio do bigode. Grande diversão!

COMPANHEIROS PELO DESTINO

Prepare-se. Trata-se de um dos maiores faroestes de todos os tempos. Os Matadores é mais do que um simples spaghetti western. Tem o charme dos filmes italianos típicos dos anos 70, mais vai fundo em seu propósito de mostrar com mais clareza as relações humanas em meio a lugares onde a palavra lei não aparece nem no dicionário e onde cobiça e traição são comportamentos constantes

Na cidade de San Bernardino, o comerciante de armas Yolaf Peterson (Franco Nero) quer vender armas para a guerrilha, mas o dinheiro está guardado num cofre de banco. O único a saber da senha é o professor Xantos (Fernando Rey, ator favorito do diretor Luis Buñuel), que está prisioneiro dos americanos no Forte Yuma. Acompanhado pelo relutante guerrilheiro Vasco (Thomas Millian), Yolaf pretende libertar Xantos em troca da combinação do cofre. O que ele não sabe é que seu antigo sócio John (Jack Palance, viva!!!) tem outros planos para o dinheiro.
Simplesmente apenas palavras não descrevem os adjetivos superlativos do elenco (poucas vezes se viu tantos nomes de talento num mesmo spaghetti western), da direção correta e sensível de Sergio Corbucci e da trilha sonora composta por ninguém menos do que Ennio Morricone (ele parece ter vivido uma de suas outras encarnações no velho oeste, tamanho o apuro de suas músicas em combinação com a ação). Destaque também para o trabalho de escolha de locação, a atuação dos dublês, as cenas de explosão, tudo filmado sob uma estética provocativa e, ao mesmo tempo, poética. Tudo isto faz do filme uma obra-prima. E como obra-prima, precisa ser descoberta por quem não a conhece e revisitada por quem a tem em alta estima.

Muitos acham que o diretor Corbucci, apenas por este filme, já mereceria entrar para o clube dos grandes diretores de westerns europeus, como Sergio Leone (Era Uma Vez no Oeste), o que de fato nunca aconteceu. Talvez a versão e, DVD sirva para rever algumas injustiças. Corbucci merece entrar para o hall dos grandes diretores de todos os tempos. Os Matadores é a prova que seu talento não é todo dia que se encontra.

BUFFFALO BILL – A LENDA DE ROBERT ALTMAN



Ninguém melhor do que o recentemente falecido diretor Robert Altman para entender a linguagem do cinema, reinventá-la e jogá-la novamente de volta na tela grande. Um dos grandes mestres do cinema de todos os tempos, não havia quem não quisesse trabalhar com ele. Assim como seu contemporâneo, o também genial Stanley Kubrik, Altman dirigiu sucessos (só para citar alguns) como Short Cuts, MASH, Cerimônia de Casamento, Pret-A-Porter e Mistério em Gosford Park e nunca se repetiu ou fez o mesmo filme duas vezes.
O mesmo ocorre com Buffalo Bill. Em vez de retratar os feitos audazes do legendário herói americano, Altman o coloca em cena um pouco mais velho (na pele de ninguém menos do que Paul Newman, também falecido recentemente), um dos grandes atores de todos os tempos e certamente referência para quem está chegando.
Apesar da trama simples, Altman coloca diversas cerejas no bolo, tornando-o ainda mais atraente, através das histórias paralelas que ocorrem durante o filme. Buffalo Bill – codinome do Capitão do exército William Frank Cody, personagem que aparece em nada menos do que 54 produções cinematográficas até hoje - está montando seu próprio espetáculo (mal comparando, uma espécie de Beto Carreiro americano). Convidado a uma participação especial, o chefe indígena Touro Sentado aceita fazer uma participação especial. Entretanto, o traíra pele vermelha tem outros planos, envolvendo dois grandes amigos de Buffalo: o presidente dos Estados Unidos e seu fiel escudeiro, General Custer.
Vencedor do prêmio de melhor direção no Festival de Berlim, Buffalo Bill é baseado na peça Indians, de Arthur Kopit, encenada na Broadway entre 1969 e 1970, indicada ao Tony de melhor montagem teatral. O roteiro ficou por conta de Alan Rudolph, colaborador de longa data de Altman, que mais tarde passou à direção. É também o quarto filme ambientado no velho oeste estrelado por Newman. Antes, ele já havia encarnado personagens tão lendários como Billy the Kid, Butch Cassidy e o Juiz Roy Bean. Trabalhou em mais um filme dirigido por Altman, Quinteto, de 1979. Em Buffalo Bill, como em grande parte dos filmes do diretor, grandes atores fizeram parte do elenco, como Burt Lancaster, Joel Grey (vencedor do Oscar de coadjuvante por Cabaret, em 1972), os jovens Geraldine Chaplin e Harvey Keitel.
Algumas outras curiosidades sobre Buffalo Bill dão conta de que originalmente, o projeto pertencia a Paul Newman e George Roy Hill (diretor de Butch Cassidy). Hill teria se afastado por motivos particulares e Altman assumiu a direção. Hill e Newman acabaram por trabalharem juntos novamente no sucesso Golpe de Mestre, também contando com Robert Redford. A grandiosidade da produção inclui uma direção de arte requintada (incluindo-se aí os figurinos) e um cast com mais de 500 figurantes.
Uma das grandes produções cinematográficas de todos os tempos, Buffalo Bill é mais do que uma releitura do velho oeste. É uma homenagem ao tempo em que os homens eram homens.

BONITÃO E TRAPACEIRO

Em Sartana Chegou para Matar, o uruguaio George Hilton usa e abusa de sua pinta de galã para explodir com seus inimigos no velho oeste

De  todos os atores que estrelavam os chamados spaghetti westerns nos anos 70 (Franco Nero, Anthony Steffen, Fabio Testi, Klaus Kinsky e outros) apenas George Hilton conseguia fazer western com humor. Pinta de galã, barba mal feita, jeitão de trapaceiro, bon vivant, esperto, ele consegue tudo que quer, sempre com seu “jeitinho” para resolver as coisas.
A cena inicial, em que Hilton serve cerveja batizada a um batalhão alemão em busca de um ídolo perdido, para poder roubar-lhes o carregamento dá o tom do que se segue.
Sartana Chegou Para Matar acerta na escolha dos personagens coadjuvantes, sempre com doses de humor: os irmãos fora-da-lei Caim e Abel; o empresário imperialista que deseja fazer bons negócios com o ídolo desaparecido; o general revolucionário que mais parece um picareta do que propriamente um lutador pelos ideiais de suas causas; o ladrão que se veste de escocês (ótima idéia, um pistoleiro de saias); e finalmente o dono da lojinha que não esconde sua tara por qualquer rabo de saia.
A direção precisa de Anthony Ascott e um roteiro bem amarrado contribuem decisivamente para o bom andamento da história. Sartana (Hilton) é contratado por um velho revolucionário em plena guerra civil para que descubra o paradeiro de um ídolo sagrado. Com o ídolo nas mãos, conseguirá fazer com que os nativos da região se alien a ele na guerra (uma estratégia bem bolada). Só que tem mais gente interessada no ídolo, como o mega empresário que vê na descoberta de tal raridade, a possibilidade de ganhar uns dólares a mais. O problema é que o ídolo é roubado por assaltantes que não sabem o valor do que têm nas mãos. Confusões à parte, o filme é deliciosamente realizado. Hilton consegue 
driblar suas limitações dramáticas com seu carisma e seu charme sempre presentes, tornando o filme um dos melhores do gênero. Numa das cenas, ele consegue arrancar risos ao esbofetear um bandido como se fosse um treino de box, bem ao gosto de seu colega de velho oeste Trinity (Terence Hill) na maioria de seus filmes e que se tornou sua marca registrada.
Sartana Chegou para Matar é divertimento de primeira para toda a família.